A nutrição enteral (NE) consiste na infusão de uma dieta líquida administrada por meio de uma sonda colocada no estômago ou no intestino. A ANVISA define nutrição enteral na Portaria n° 337: “Alimentação para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição química definida ou estimada, especialmente elaborada para uso por sonda ou via oral, industrializados ou não, utilizado exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, domiciliar ou ambulatorial, visando à síntese ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistemas.”
Pacientes com trato gastrointestinal (TGI) íntegro ou parcialmente funcionante, com apetite diminuído a ponto de não ingerirem um mínimo de nutrientes necessários ou aqueles que se encontram impossibilitados de alimentar-se por via oral, devem receber NE. Nos últimos anos, os contínuos avanços tecnológicos e nos conhecimentos da fisiopatologia gastrointestinal permitiram estender os benefícios da alimentação enteral a pacientes criticamente enfermos, com graves distúrbios do aparelho digestivo.
A nutrição enteral é vantajosa em relação à nutrição parenteral na medida em que: mantém o fluxo sangüíneo mesentérico, e a flora intestinal mais equilibrada, ajuda na preservação da estrutura e função dos intestinos, do fígado e da imunidade, permite utilização mais eficiente dos nutrientes com menor risco de infecção e de complicações metabólicas, além de ter menor custo (Krause, 2010).
Em várias situações clínicas está indicada a NE:
•Disfagia grave por obstrução ou disfunção da orofaringe ou do esôfago, como megaesôfago chagásico, neoplasias de orofaringe e esofágicas;
•Coma ou estado confusional, por trauma crânio-encefálico, acidente vascular cerebral, doença de Alzheimer, entre outros;
•Anorexia persistente, por neoplasias, doenças infecciosas crônicas, depressão, etc;
•Náuseas ou vômitos, em pacientes com gastroparesia ou obstrução do estômago ou do intestino delgado proximal;
•Fístulas do intestino delgado distal ou do cólon;
•Má-absorção secundária à diminuição da capacidade absortiva, como no caso de síndrome do intestino curto;
•Broncoaspiração recorrente em pacientes com deglutição incoordenada;
•Aumentos dos requerimentos nutricionais, por exemplo, em pacientes com grandes queimaduras;
•Doenças ou desordens que requerem administração de dietas específicas: Quilotórax e pancreatite aguda, insuficiência hepática, insuficiência renal, doença de Crohn em atividade e outras.
Uma indicação geral para a NE é a manutenção da integridade da mucosa do TGI e a prevenção de sua hipotrofia, particularmente em pacientes pós-cirúrgicos ou pós-trauma, ou naqueles com jejum prolongado associado com doenças crônicas.
A NE geralmente não está indicada em pacientes com obstrução intestinal completa, necessidade repouso intestinal, hemorragia digestiva alta, perfuração intestinal e em certos tipos de fístulas e no "íleo paralítico
As fórmulas enterais, geralmente são classificadas baseadas na sua composição protéica ou de todos macronutrientes.
Deve-se determinar o tempo de nutrição enteral para escolher a via de acesso:
-Via nasogástrica: inserida no nariz até o estômago;
- Nasoduodenal: para pacientes com alto risco de aspiração, refluxo, retardo no esvaziamento gástrico, náuseas e vômitos;
- Gastrostomia/ Jejunostomia: as sondas são colocadas sem procedimento cirúrgico no estômago ou jejuno e trazidas para fora através da parede abdominal para permitir a via de acesso para a alimentação, tudo isso por via endoscópica;
- Enterostomia por cirurgia: para pacientes que requerem algum suporte nutricional e submetidos a algum procedimento cirúrgico (Krause, 2010).
A alimentação enteral é a modalidade preferida de suporte em pacientes graves com função digestiva aceitável, porém incapazes de se alimentar por via oral, entretanto as vantagens da oferta contínua em contraste com a intermitente são rodeadas de controvérsias (Serpa, 2003).
A nutrição enteral precoce (NEP) pode diminuir complicações infecciosas, melhorar cicatrização e conseqüentemente reduzir o tempo e o custo da internação (Watanabe et al, 2002).